Beatrix Potter

"Há algo delicioso em escrever as primeiras palavras de uma história. Você nunca sabe aonde elas te levarão."
 There is something delicious about writing the first words of a story. You never quite know where they'll take you.

Esta é uma das citações mais famosas de uma mulher incrível, que viveu lá nos tempos da rainha Victória. Uma figura destemida e insistente, que sem qualquer resquício de medo, buscou a liberdade e lutou por seus ideais. Com as próprias mãos, construiu um imenso patrimônio, material e imaterial, partindo contra os princípios sua época, que destinavam à mulher um casamento precoce e uma vida inteira dedicada ao trabalho doméstico. Nunca desistiu de seus sonhos, e fez das frustrações combustível para sua mente cheia de ideias. Em uma delas, surgiu Petter Rabbit, Tido hoje, como um marco da literatura infantil.

Beatrix Potter sempre foi uma das minhas maiores inspirações, não só pelo trabalho artístico e literário, mas pela grande lição que deixou. Teve uma vida tão rica e cheia de experiências, que seria um desperdício não escrever à respeito.

Já faz algum tempo que quero falar sobre ela, mas, somente sábado tomei coragem para começar. Confesso que esperava terminar este texto muito antes, porém, depois de algum tempo escrevendo, percebi, por comparação, que grande parte das fontes em português estavam erradas e contraditórias. Foi então que sai em busca de informações verídicas. Encontrei duas fontes, em inglês, as quais tomei como base para compor o texto.
Algumas partes foram apenas traduzidas, mas a grande maioria do conteúdo foi redigido por mim.

A principio, planejei abordar na postagem as influências de seu trabalho em minha vida. Por fim, acabei me aprofundando bastante. Até que foi divertido! Ficou um pouco extenso, mas espero que gostem!



                                                                      Vida e Obra  

Beatrix aos 25 anos com seu coelho, Benjamin Bouncer, 1891.
Helen Beatrix Potter (28 de julho de 1866), ou somente Beatrix Potter, como era chamada, foi um exemplo de determinação e dedicação. De origem conservadorista, tornou-se micologista, escreveu e ilustrou histórias atemporais que encantaram, e ainda encantam, crianças e adultos de todo o mundo. Atualmente, para algumas pessoas, é tida também, como um simbolo contemporâneo do feminismo, pela independência financeira e do vasto patrimônio que adquiriu com os lucros de suas obras, em contrapartida às mulheres de sua época, que dedicavam toda a vida ao trabalho doméstico.
Nascida em uma família de burgueses, Beatrix nunca fora enviada à escola, e junto de seu irmão 6 anos mais novo, Walter Bertram Potter, recebeu educação em casa. Seus pais, Rupert William Potter e Elen Leech, eram amantes das artes, Rupert, da fotografia amadora e Elen, da pintura. Desde muito cedo, estimularam o interesse da filha, disponibilizando a ela grandes tutores de arte e levando-a para conhecer galerias. Depois de algum tempo estudando, já com um certo conhecimento artístico, passou a utilizar a aquarela em seus desenhos.
 Estudos sobre lagartas feito por Beatrix aos 8 anos de idade. 
Ela e o irmão eram fascinados pelos animais. Não satisfeitos em terem apenas um cachorrinho, mantinham, na sala de aula adaptada, também como mascotes, diversos bichos diferentes, como coelhos, sapos, ratos, lagartos, cobras, caracóis e um morcego. Estas criaturas foram, sem sombra de dúvidas, de grande inspiração para os jovens artistas, que também eram muito aplicados nos estudos de história natural e dedicavam boa parte do seu tempo observando e ilustrando animais e plantas. Mas a alegria das atividades diárias nem se comparavam à que sentiam nas férias de verão, quando viajavam com os pais para o campo, onde podiam desfrutar da beleza campestre e acompanhar de perto os hábitos dos seres que tanto adoravam ilustrar. Por muitos anos, viajaram para Perthshire, na Escócia e mais tarde para Lake district, em Cúmbria, na Inglaterra, mais especificamente, quando Beatrix tinha 16 anos. Ela, instantaneamente, deslumbrou-se com as belezas daquelas terras. Com o tempo, aprendeu sobre a importância de protege-las da exploração, que crescia desenfreadamente. Esta lição, carregou para a vida toda e  inclusive, influenciou diversas de suas decisões.
Ainda na adolescência, Bertram foi enviado para estudar em um internato e a garota passou a ficar sozinha. Aos 20 ano, mostrou-se uma talentosa naturalista, fazendo estudos de plantas e animais nos museus da rua Cromwell, e aprendendo a desenhar com o olho no microscópio. Interessou-se, particularmente pelo estudo do reino fungi, compondo uma tese intitulada "On the Germination of the Spores of Agaricineae". Em 1897, com a ajuda do tio, o notável químico Sir Henry Roscoe, seu trabalho foi apresentado à Linnean Society, na época, composta apenas por homens. Por ser amadora, e talvez, mais significativamente, mulher, seus esforços não foram levados a sério e sua tese foi rejeitada.
Frustrada, optou por dedicar-se à escrita e ilustração, algo que já havia começado há algum tempo antes de compor a tese. Primeiramente, pelas encomendas de cartões comemorativos que recebeu, em 1890, e depois, pelas cartas que escrevera à Noel Moore, filho de Annie Moore, sua governanta. Nestas cartas, Beatrix contava e ilustrava histórias de uma forma inédita. Se até então seus trabalhos eram constituídos de representações fiéis de animais, agora atribuía a eles roupas e personalidade. Em uma das cartas, datada de setembro de 1893, surgiram Flopsy, Mopsy, Cottontail e Peter Rabbit, que viria a ser sua criação mais importante. Sete anos mais tarde, pediu que o garoto devolvesse-lhe as cartas, para que pudesse refazer os desenhos e escrever a obra completa, "The Tale of Peter Rabbit".
 

Em 1901, após ter sua ideia rejeitada por 6 seis editoras, diagramou a história por conta própria, e apresentou a Frederick Warne, que aceitou publica-la. A obra fez tanto sucesso, que em um ano, seis novas edições foram necessárias para suprir a demanda. O feito marcou o inicio de uma grande amizade entre os Warne, principalmente por Norman Warne, seu editor, e com quem viveu um romance. Em 1905, recebeu dele uma proposta de casamento, e ela, por sua vez, aceitou sem muito exitar, entretanto, pediu que mantivesse a decisão em segredo por algum tempo, pois seus pais consideravam-no de classe inferior e desaprovavam a relação. Tragicamente, um mês após o pedido, Norman faleceu de Leucemia e Beatrix, desolada, passou a trabalhar mais do que de costume.
Menos de um ano após a perda, comprou sua primeira propriedade em Lake District, chamada "Hill Top", e lá tomou importantes lições sobre como administrar uma fazenda. Depois de algum tempo, passou a empenhar-se nas atividades rurais, diminuindo o ritmo de suas criações, produzindo apenas 2 ou 3 livros por ano. Em 1909, quando adquiriu sua segunda fazenda, conheceu William Heeles, procurador local, com quem viria a se casar em 1913, por volta dos 47 anos.
Beatrix e William Heeles, 1913.
Depois de casada, entregou-se de vez à vida campestre e à luta pela preservação do local. Tornou-se especialista na criação de ovelhas da raça Herdwick, que caminhavam para a extinção, e com os lucros que recebia da venda de seus livros, passou a comprar mais e mais terras cumbrianas. Em 1930, escreveu seu último livro, "The Tale of Little Pig Robinson".
 Beatrix faleceu no dia 22 de dezembro de 1943, aos 77 anos, deixando nada menos que 14 propriedades, e mais de 4000 acres de terra para o recém criado fundo de preservação inglês. "The National Trust", 
No momento presente, é tida como uma das mais importantes escritoras infantis. Suas 28 obras foram traduzidas para aproximadamente 38 línguas e lidas por mais de 100 milhões de pessoas em todo o planeta.
Interior do Victoria & Albert Museum
Em 2009, pela primeira vez, "The Tale of Petter Rabbit" foi trazido ao Brasil em sua formatação original, com o título "A História de Pedro Coelho", pela editora Lotus do Saber. Inclusive, pode ser adquirido, pelo valor de R$ 30,00, na livraria Saraiva.
Grande parte de suas ilustrações e estudos, desde a infância à fase adulta, estão expostos no Victoria & Albert Museum, um dos museus da rua Cromwell, os quais visitava para compor seus trabalhos. 









                                                                            Na Mídia  

Em 2006, na direção de Chris Noonam, foi produzido o longa "Miss Potter", trazendo Renée Zellweger no papel de Beatrix. A obra apresenta, de forma sensível e com riqueza de detalhes, uma adaptação da história de Beatrix como escritora, misturando-a a de seus personagens, proporcionando uma sensação doce e ao mesmo tempo, mágica e inspiradora. Assisti-la é uma experiência indescritível da qual todos deveriam experimentar.
Este é o trailer, mas infelizmente, não encontrei dublado ou legendado com boa qualidade.


Anos antes da obra cinematográfica, foi produzida uma série de tv, transmitida oficialmente pela BBC, entre 1992 e 1995, chamada "The World of Peter Rabbit and Friends". A produção apresentava, na forma de fiéis animações, as histórias de Beatrix, então representada pela atriz Niamh Cusack.

Alguns episódios estão disponíveis no Youtube, entretanto, como a séria nunca foi trazida ao Brasil, todos os capítulos estão em inglês. Se quiser dar uma espiadinha, este é o link para um dos episódios. "The tale of Mr. Tod".


REFERÊNCIA

http://www.peterrabbit.com/en/beatrix_potter/beatrixs_life/
http://www.vam.ac.uk/content/articles/b/biography-beatrix-potter/

Imagens dos acervos de © Frederick Warne & Co., © National Trust e © Victoria and Albert Museum.


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